sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Para a semana, mudo de vida

No passado, quando formulei este pensamento ou disse este conjunto de palavras, estaria seguramente a referir-me a uma destas coisas:

a) começar uma dieta e/ou parar de comer como um hipopótamo
b) (re)começar a ir ao ginásio ou a correr
c) reavaliar uma (má) relação

Desta vez o motivo é d).
Não é que não precisasse de começar a comer melhor (que é como quem diz, pior) mas agora é diferente.

A busca por uma nova toca a que pudesse chamar lar, terminou. É tempo de pegar nos tarecos e começar uma vida diferente. A Mulher de Sonho vai mudar de casa.

Das muitas mudanças que fiz nos últimos anos, esta é a mais difícil. De longe. Não só porque quando chegamos à sétima, o entusiasmo diminui (sim, sim, sétima) mas sobretudo porque já se conhecem todas as dramáticas fases que temos que atravessar até a nova casa estar confortável. É como ir à depilação: queremos ter pele de golfinho bebé, conhecemos o processo, sabemos que vai custar, mas na verdade nada nos prepara para ter um laser apontado ao ânus.

Portanto, como o que tem que ser diz que tem muita força, esta Mulher de Sonho vive agora dias de glória por entre caixas de cartão grosso, papel de revista e rolos de papel bolha.
Ainda nem comecei a embalar e já tenho suores frios de cada vez que olho para o papel bolha e ele olha de volta e me diz, numa voz arrastada e sensual, “vá, rebenta comigo, de que é que estás à espera?”. E eu suo, porque na verdade, eu quero lá embalar alguma coisa! O que eu quero realmente é sentar-me no chão e rebentar uma – bolha – de – cada – vez. Paac! Paac! Paac! Paac! E depois rebolar por cima do plástico vazio, mandar vir uma pizza, ver uma série e esperar que a Fada das Mudanças apareça durante a noite e que trate de tudo por mim (também não tenho dormido muito) (nota-se?)

A vertigem que se segue - e que vem lá a enorme velocidade - é a de meter a vida em caixas e em sacos, e meter as caixas e os sacos, e a vida lá dentro, na mão de estranhos, e perceber que anos de existência cabem em camionetas de tamanho médio. E que se alguma coisa explodir durante a viagem e tudo pegar fogo, nem os cartões das caixas posso aproveitar para dormir debaixo da ponte. Dramática, eu?

Admitamos que tudo corre bem. Tudo intacto espalhado pela casa. E agora? Agora serão dias a fio à procura disto e daquilo. E, do que for que eu preciso, estará sempre na última caixa em que procurar. Ou na primeira, mas debaixo de uma coleção de bigornas. Ou de pianos de cauda. Vocês entendem.

E o clássico momento em que odiarei toda a Humanidade por ter escolhido aquela casa nova? Pois é. Há sempre um momento que me faz questionar tudo. Pode ser uma torneira que pinga toda a noite, uma fresta de janela impossível de tapar ou o contador na parede no qual darei uma cabeçada por semana. No mínimo! (quem é que pôs aquela merda naquele sítio?) (viviam ali anões, era?) (não se vê mesmo que aquela aresta é para matar?)

Desejem-me pois muita sorte e muito vigor pois o que lá vem não é fácil.
Sou de sonho mas não sou de ferro.



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