quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Fingir? Mas para quê...?

Nunca percebi para que finge uma mulher o seu orgasmo. Não consigo encaixar os argumentos de quem o faz e não compreendo o propósito que me dizem servir.

Há tantas mulheres, jovens e graúdas, que se entregam a esta prática com tamanha regularidade que me fazem lembrar as palavras de Fernando Pessoa:

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

A dada altura já nem a mulher sabe onde termina a mentira para o outro e começa a mentira para si própria. E para quê?

Para esconder que não é - ou que não foi, naquela circunstância - capaz de atingir o clímax? Para evitar que se pense que há algo de errado com o seu corpo? Mas afinal isso é responsabilidade apenas dela? Das suas lady parts? Será menos mulher, por isso? Menos sensual, menos amante, menos amada? Se alguém acha que sim, não devia. E se esse alguém é o parceiro, então nem há razão para se dar ao incómodo. O parceiro é claramente totó (é o termo técnico).

Ou será para não falhar no papel de super-mulher que demasiadas vezes impomos a nós próprias? Queremos ser boas profissionais - implacáveis a gerir negociações, cativantes com os nossos clientes, líderes de equipas motivadas e ganhadoras -, queremos chegar a casa e ser chefs de cozinha - capazes de cozinhar sushi, mão de vaca ou pudim de ovos à moda da avó (dele) -, queremos ser as melhores mães - as que ajudam nos trabalhos de matemática, dão banho, contam uma história e de manhã levam à escola -, e depois ainda queremos ser magras e atléticas, ir correr à beira rio, ter o cabelo e as unhas impecáveis, ter tempo para estar com as amigas, apoiar os pais e os sogros, e todas as noites ter sessões de sexo escaldante, com direito a mais múltiplos que dedos das mãos, e fazê-lo adormecer com a convicção de que nunca quererá outra mulher a dormir contra o seu peito. A sério, senhoras? Assim não admira que finjam. É o mais fácil. E o mais parvo.

Será para não magoar sentimentos? Na base, até compreendo este motivo. Mas pensem lá comigo: fingir não é sustentável, pois não? Vamos proteger alguém com base numa mentira, privando-nos de uma sexualidade completa? E no dia em que nos cansarmos e o outro questionar o que mudou?
Este argumento faz-me sempre lembrar a história da coleção de hipopótamos. Alguém que tinha um familiar que em certa ocasião lhe ofereceu um hipopótamo de loiça. Para não magoar os sentimentos de quem fazia a oferta, o agora dono do bibelot mais feio do universo, teceu-lhe enormes elogios. Claro está que em todas as futuras ocasiões festivas, fruto da alegria que demonstrou perante aquela lembrança, voltou a receber hipopótamos de loiça. Maiores ou mais pequenos, feios ou horrorosos, mas sempre dados com a convicção que estariam a fazer feliz quem os recebia. E a cada momento a povoar a sua casa com a odiada coleção.
Vamos lá, vocês querem MESMO começar uma coleção de orgasmos de loiça? Se é que me entendem.

Muitas mulheres sentem que falham quando não conseguem “lá” chegar. Mais depressa se culpam a si do que ao outro ou às circunstâncias. O que não podia ser mais errado. Às vezes é uma questão de timings, de se estar mais ou menos à vontade, do cansaço, do tipo de sexo (muitas mulheres só atingem orgasmos com sexo oral, por exemplo) ou, tão simplesmente, de não pôr tanta pressão nesse momento. É quase como aquele espirro que nos faz interromper uma conversa, cria enorme expectativa, e que depois não há meio de se soltar.

Uma relação sexual não deve ter como único objetivo o atingimento de um orgasmo. Se tiver, tanto melhor. Se forem vários, fantástico. Mas o sexo deve ser uma experiência em si mesma. Positiva pela energia que se transmite, pelo toque, pelos sentimentos que se geram e pelo que acrescenta ao amor, se acontecer dentro de um relacionamento em que o haja.

Proponho pois que parem com isso. Parem, simplesmente. Pode ser? A próxima vez que estiverem com a vossa pessoa, desfrutem, sem pressão, do momento que viverem. E aprendam, em conjunto, qual o caminho para chegar ao vosso orgasmo. Somos mulheres, mas não somos todas iguais.

Acabemos pois com a farsa, antes que a farsa acabe connosco.


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