terça-feira, 19 de novembro de 2013

Eu, com dezasseis anos

Há dias em que o meu cabelo se transfigura. É outro cabelo.
Imaginem um cabelo com um sobretudo, um bigode e um chapéu. Irreconhecível, num (mau) filme de espiões. Ou um cabelo com um boné de basebol e uns óculos escuros, na vida (real) de uma estrela de Hollywood. Reconhecível mas apenas pelos mais atentos ou mais sortudos. Ou mesmo um cabelo com um fato de super-herói e uma voz mais grave. O bat-cabelo. Vocês entendem: é o cabelo de outra pessoa que ali/aqui está, agarrado à minha cabeça, a seguir-me para onde quer que eu vá. Assobia, quando eu ensaio um olhar mais atento. Mas ele sabe que eu sei que aquele cabelo não é o meu.

Não tenho explicação para este fenómeno.
Quem tem cabelo ondulado diz que a humidade ou a chuva são fatais. O meu cabelo é liso. Ou melhor, é liso na maior parte do dias. Nestes, nem tanto.
Nestes dias, sem razão aparente, parece que dormi agarrada à bateria do meu carro. Ou a fazer o pino. Ou metida num bidão de melaço. Ou com papelotes (acho que nunca tinha escrito esta palavra) (papelotes, papelotes).

O meu cabelo ainda não começou a mudar de cor, mas já não estranharia. E até seria a melhor parte do fenómeno. Um cabelo tipo mood ring. Lembram-se dos mood rings, aqueles anéis que (alegadamente) mudavam de cor de acordo com o nosso estado de espírito? Isso teria a sua graça. Embora, pensando melhor, cabelo preto quase todos os dias também cansaria. E lá iria sempre ruiva fazer o amor.

Mas divago.
O que queria mesmo era carpir a mágoa de ostentar hoje a popa que nunca tive - e pela qual tanto suspirei - na altura do liceu. E sem nada fazer por isso. O meu cabelo apresenta hoje, por iniciativa própria, um majestoso tsunami capilar. Centímetros de altura erguem-se da minha testa sem qualquer explicação, numa frondosa popa à anos 90.

Vou vestir umas calças de ganga da Uniform, pôr a tocar uma música dos New Kids On The Block e aceitar com (a) serenidade (possível) o que não consigo mudar.







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